A dança despertou em mim desde cedo

Em minha infância minha avó dirigia uma escola, a “Escola Lar das Crianças” no Bairro de Pinheiros, comumente chamada entre os japoneses de nihon-gakko, que juntava crianças descendentes de japoneses com brasileiras onde havia o jardim da infância e o pré-primário, além do ensino da língua japonesa e aulas de música. Mais tarde, no salão ao lado, meu pai faixa preta de judô e karatê funda a primeira academia de artes marciais para crianças e jovens. Eu tinha muitas habilidades corporais e musicais, e desde pequena, creio que com 3 anos, descobri que a dança se manifestava em mim como um canal poderoso de comunicação do meu ser com o mundo, uma vez que era muito tímida e quase não falava. Quando completei 8 anos comecei a fazer aulas de ginástica olímpica no Clube Pinheiros. Somente aos 15 anos iniciei meus aprendizados na técnica da dança (1980): no ballet clássico e no jazz moderno com Armando Duarte, este meu grande incentivador, no Estúdio de Ballet Cisne Negro, como bolsista, onde integrei o Grupo Experimental de Dança Passo a Passo do Cisne Negro (1983). Em seguida fiz parte do Grupo Casa Forte, fundado por integrantes da Escola de Educação Física da USP (1985). Aos poucos fui conhecendo outras técnicas modernas de dança. Nesta época não sentia uma concordância entre meus anseios mais íntimos e as técnicas que aprendia, ou coreografias que executava. Aos 25 anos, tive meu primeiro contato com a dança oriental chinesa e o tai-chi-chuan, sob cuidados de Maria Lúcia Lee (1990), e mais tarde, com as artes marciais: ai-ki-dô, kendô e, atualmente, o iai (a arte da espada) e o karatê. Mas foi a partir do encontro com os artistas Takao Kusuno e Felícia Ogawa, ao lado do intérprete-criador Denilto Gomes, em 1991, que iniciei um processo absolutamente novo de descobertas e aprendizados, principalmente o desenvolvimento de uma consciência corporal, num ato de transgressão das limitações corpóreas. Uma mudança radical ocorreu na minha visão da dança e, é então que iniciei a busca por uma expressão singular, única do ser humano e de sua alma, ao vasculhar a memória, o inconsciente e seu ambiente. Comecei a direcionar meu trabalho para um mergulho nas minhas raízes, tanto no âmbito corporal quanto na busca de minha identidade cultural. Após a morte de Takao Kusuno em 2001 e o encerramento de sua companhia, a Cia. Tamanduá de Dança-Teatro, iniciei minhas próprias criações e produções com artistas da dança, do teatro, do cinema e da vídeoarte. Paralelamente ministro workshops, oficinas de dança e criação para crianças, jovens e adultos.


Currículo artístico

Emilie Sugai, coreógrafa, dançarina de butoh, performer, desenvolve uma linguagem própria e singular, em criações solos e em grupos, fruto de suas inquietações artísticas e de vida, geradas das influências recebidas de seu mestre Takao Kusuno no período de 1991 a 2001, das pesquisas relacionadas às memórias do corpo, da ancestralidade e de colaborações com artistas da dança, teatro, cinema e da vídeoarte.

Premiada com a Bolsa Vitae de Artes (1999) aprofundou as investigações relacionadas às memórias do corpo como nipo-brasileira, com a Bolsa UNESCO-Aschberg ministrou um ateliê coreográfico no Senegal-Africa com dançarinos e percussionistas tradicionais senegaleses (2003), recebeu os Prêmios FUNARTE de Dança Klauss Vianna (2006/2007), Prêmio APCA melhor concepção em dança em 2008 para “Hagoromo”, Premio Denilto Gomes para “Holoch” de melhor concepção em dança de 2013 pela Cooperativa Paulista de Dança, entre outros.

Produziu e criou os espetáculos “Tabi” (2002), “Totem” (2004), “Intimidade das Imagens” (2006), “Hagoromo” (2008), “Lunaris” (2011) e o “O Sonho da Raposa” (2013). Em parcerias criou a performance Termini (2001), com o NAC – Núcleo de Artes Cênicas a performance site specific “Holoch” (2013) e com a Fundação Japão a performance Cinema de Sombras (2003) e “Sol e Aço” no Projeto Redescobrindo Yukio Mishima (2018). Recentemente, criou “Aka” (2021) e o filme “O Monge e o Touro” (2022). E codirigiu “O Poço da Mulher-Falcão” fruto de uma residência artística ministrada no Centro de Pesquisa Teatral _ CPT Sesc (2023).

Em 2016 colaborou para a artista Rita Ponce de León, artista plástica peruana, na criação da escultura En forma de Nosotros de sua autoria, na 32ª Bienal de Artes de São Paulo – Incerteza Viva.

Paralelamente participou de duas produções com consagrados diretores: “Foi Carmen” criação e direção de Antunes Filho, uma homenagem a Kazuo Ohno em Yokohama-Japão (2005); e com a Cia. Pappa Tarahumara em Tokyo-Japão na montagem do espetáculo “Heart of Gold”, baseado na obra Cem Anos de Solidão de Gabriel Garcia Marquez, sob direção do japonês Hiroshi Koike (2005).

Com a Cia. Tamanduá de Dança Teatro fundada em 1995 sob direção de Takao Kusuno e Felicia Ogawa participou de diversos festivais internacionais de teatro (Alemanha, Cuba, Japão, Brasil), com os espetáculos “O Olho do Tamanduá” (Troféu Mambembe de Dança/1995) e “Quimera o anjo vai voando”(1999).


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