Mauricio Copetti

Intercambio cultural no Senegal

Foi um grande desafio coordenar um grupo de dançarinos e músicos composto por doze integrantes (3 percussionistas senegaleses, 4 dançarinos senegaleses, 3 dançarinas senegalesas, 1 atriz polonesa e 1 dançarina belga, na faixa entre 15 a 38 anos) num exercício de criação coreográfica. Houve realmente um encontro de culturas totalmente diferentes. Mas foi preciso tempo para compreender certos aspectos da vida dos dançarinos senegaleses, sua maneira de ser em seu contexto local principalmente ligada às dificuldades econômicas, o que dificultou o andamento dos trabalhos.

No contexto da dança a troca foi bastante rica e interessante. A linguagem que desenvolvo na dança vem da prática de improvisações com um olhar que tem forte influência de conceitos advindos da dança japonesa. Este trabalho tinha um forte contraste com a dança tradicional africana. Os corpos vigorosos dos dançarinos africano-senegaleses, sua dança ritmada de pernas ágeis que acompanha os ritmos dos tambores, as ondulações da coluna, e a noção de beleza de sua dança que se torna rápida e intensa e vai-se entrando em uma euforia e transe, contrapunha-se aos treinos propostos que introduzi durante minhas aulas: as atividades privilegiavam um corpo articulado, cheio de gestualidade e sutilezas, concentração, disciplina e intensidade no não-movimento.

A partir desta constatação e da diversidade cultural que se apresentava diante de mim, dirigi minha criação em busca de algo que traduzisse este encontro. Em conversas e troca de idéias com M.Gerard, diretor da instituição, pude chegar a um delineamento do que seria o roteiro desta criação em dança-teatro. O resultado coreográfico após três meses de trabalho em forma de espetáculo “DOXÄNDÉM sur la voie…” foi a finalização do meu estágio (duas apresentações no Teatro Sobo-Bade em Toubab Dialao – 28 e 29 de março e uma apresentação no Centro Cultural Blaise Senghor em Dakar – 2 de abril de 2003). Assimilar todas estas informações no corpo, nas trocas realizadas com os dançarinos senegaleses requer um tempo maior de convivência. A dança contemporânea no Senegal carece de informações e intercâmbio mais intensos. Quanto a mim, meu desejo será elaborar esta experiência na forma artística buscando um aprofundamento e compreensão na linguagem da dança.

Durante minha estadia pude presenciar algumas manifestações culturais da região e do País, tais como:

  • Comemoração da TABASKY, festa religiosa muçulmana: durante quase uma semana vi por todos os lados, no interior e na cidade de Dakar, carneiros sendo comercializados e transportados em cima de ônibus e carros, novilhas percorrendo todos os lados, enfim, um verdadeiro mercado de carneiros. Cada família com suas economias deve comprar um carneiro para neste dia realizar o sacrifício matando o animal para depois fazer um grande banquete.
  • A dança de SABAR, que é uma dança tipicamente senegalesa: ao som dos tambores toda vila se reúne, mulheres, homens e crianças, em uma grande roda iluminada pela lua cheia. Lá a euforia impera e há um encontro de dança e percussão, como numa espécie de competição cada um mostra a sua melhor habilidade em dançar os ritmos dos tambores.
  • O casamento numa pequena vila próxima de Toubab Dialao: todas as mulheres mais velhas reúnem-se para cozinhar ao ar livre com bacias de alumínio e grandes panelas que estão em fogo à lenha; os homens do outro lado jogam e conversam, enquanto os noivos se preparam. Durante todo o dia a festa se desenrola, com muita comida e música e quando o sol se baixa e a temperatura se ameniza é a vez de todos dançarem e cantarem.

A natureza em contato direto com o ser humano onde o homem pode criativamente nutrir seu espírito através de sua sabedoria é onde se encontra Toubab Dialao. Ao lado do mar, das águas geladas desta época do ano, o clima seco com ventos carregados de areia, a sensação do céu sobre nossas cabeças e as paisagens repletas de baobás, árvores consideradas sagradas pelos seus ancestrais, fazem parte deste vilarejo simples onde a sobrevivência está na pesca e no turismo, que tanto traz benefícios como estragos. Os aglomerados humanos da periferia de Dakar, a precariedade dos meios de transporte e o colorido das feiras ao ar livre e de suas vestimentas, ao caótico comércio de Dakar, onde as fronteiras do rural e urbano se confundem. Em meio a tudo isto, pode-se ver a simplicidade da vida do senegalês, sua maneira de viver e costumes tão diversos dos nossos. O sentimento e aprendizado que fica é a noção do que é partilhar: partilhar a comida, partilhar as coisas materiais. Este sentimento e estas imagens estão guardados em minha memória como uma das impressões mais marcantes da minha viagem.

2003


C`était un grand défi de coordonner un groupe de danseurs et de musiciens composé par douze intégrants (3 percussionistes, 4 danseurs sénégalais, 3 danseuses sénégalaises, 1 actrice polonaise et 1 danseur belge, agés entre 15 et 38 ans) dans un exercice de création chorégraphique. Il y a eu vraiment une rencontre de cultures totalement différentes.

Mais cela a demandé un certain temps pour comprendre certains aspects de la vie des danseurs sénégalais, leur manière d’être dans leur contexte local principalement lié aux difficultés économiques, ce qui a difficulté la démarche des travaux.

Dans le contexte de la danse, l’échange a été riche et intéressant.

Le language que je développe dans la danse vient de la pratique d’improvisations avec un regard qui possède une forte influence des concepts venus de la danse japonaise.

Ce travail avait un fort contraste avec la danse africaine traditionnelle. Les corps vigoureux des danseurs africains-sénégalais, leur danse rythmée de jambes agiles qu’accompagne les rythmes des tambours, les ondulations de la colonne. La notion de beauté de leur danse devient rapide, intense et rentre peu à peu dans une euphorie et transe, qui s’opposait avec les entraînements proposés que j’ai introduit pendant mes cours: les activités privilégiaient un corps articulé, riche en gestualités et subtilités, concentration, discipline et intensité dans le non-mouvement.

À partir de cette constatation et de la diversité culturelle qui s’est présentée devant moi, j’ai dirigé ma création en cherchant quelque chose qui puisse traduire cette rencontre.

Suite à des discussions et des échanges d`idées avec M. Gerard, directeur de l’institution, j’ai pu arriver à une esquisse de ce que serait le scénario de cette création en danse-théatre. Le résultat chorégraphique après trois mois de travail en forme de spectacle “DOXANDEN sur la voie” a été la conclusion de mon stage (deux présentations au théatre Sobo-Bade à Toubab Dialao – le 28 et 29 mars et une présentation au Centre Culturel Blaise Senghor à Dakar – le 2 avril 2003). Assimiler toutes ces informations dans le corps, dans les échanges réalisés avec les danseurs sénégalais, demande un temps plus grand de fréquentation. La danse contemporaine au Sénégal manque d’informations et d’échanges plus intenses. Quant à moi, mon désir sera d`élaborer cette expérience dans une forme artistique en cherchant un approfondissement et une compréhension dans le language de la danse.

Pendant mon séjour j’ai pu voir quelques manifestations culturelles de la région et du pays, telles que:

  • La commémoration de la TABASKY, fête religieuse musulmane: pendant presque une semaine j’ai vu partout, à la campagne et dans la ville de Dakar, des moutons qui étaient commercialisés et transportés dans des bus et des voitures, agneaux un peu partout, enfin, un véritable marché aux moutons. Chaque famille, avec ses économies, doit acheter un mouton, le même jour réaliser le sacrifice en tuant l’animal et ensuite un grand banquet.
  • Danse de SABAR, c’est une danse typiquement sénégalaise: au son des tambours toute la ville se réunit, les femmes, les hommes et les enfants, en un grand cercle illuminé par la pleine lune. Là-bas l’euphorie règne et il y a la recontre de la danse et de la percussion, comme dans une espèce de compétition où chacun montre le meilleur de son habileté pour danser les rythmes des tambours.
  • Mariage dans une petite ville près de Toubab Dialao: toutes les femmes les plus agées se reunissent pour cuisiner en plein air avec des bassines et des grandes casseroles au feu de bois; de l’autre côté les hommes jouent et discutent, pendant que les mariés se preparent. Pendant toute la journnée la fête se déroule avec beaucoup de nourriture et de musique. Lorsque le soleil se couche et la température devient plus agréable tout le monde commence à danser et à chanter.

La nature en contact direct avec l’être humain où l’homme peut, de manière créative, nourrir son esprit par la sagesse, c’est là qu’ on trouve Toubab Dialao. À côté de la mer, des eaux gelées de cette époque de l’année, le climat sec avec des vents chargés de sable, la sensation du ciel sur nos têtes et les paysages remplis de baobabs, arbres considérés sacrés par leurs ancêtres, font partie de ce village simple où la survie est dans la pêche et le tourisme qu’apporte des bénéfices et des dégâts en même temps.

Les agglomérations humaines de la périphérie de Dakar, la précariété des moyens de transport et les couleurs des marchés et de leurs habits, ainsi que le commerce chaotique de Dakar où les frontières du rural et de l’urbain se confondent. Au milieu de tout cela, on peut remarquer la simplicité de la vie sénégalaise, leur manière de vivre et ses coutumes si différentes des notres.

Le sentiment et l’apprentissage qui reste c’est la notion de ce que c’est que partager: partager la nourriture, partager les choses matérielles. Ce sentiment et ces images sont gravés dans ma mémoire comme une des impressions les plus fortes de mon voyage.