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O Monge e o Touro | Joel Yamaji | Alan Minas

Vi o filme agora e gostei muito, muito delicado e envolvente no seu tempo. Os movimentos são lentos, mas incrível como flutuam e deslizam tão rápido, tudo de repente se esvai como um sonho. E há no entanto a sensação da perenidade. Gosto em especial da sequência em que você aparece com uma coroa de ramos, que evoca a de Cristo, mas também os chifres retorcidos e milenares de um touro: impressiona-me ali as múltiplas transfigurações de seu rosto: ele envelhece, ele sofre a passagem do tempo, os olhos se apertam, há perscrutação, vigília,  respeito e sondagem de linhas desconhecidas e antevistas, depois os gestos encontram sustentação no ar, no invisível, você manipula cordas ou coisas que não vemos mas que estão lá, visíveis. Depois, entra-se na sombra, da qual depois também se emerge. Aliás, transfiguração é algo sempre presente no que você faz: aqui, há momentos em que se é feminina, mas de repente, é se o masculino, o velho aparece, o monge?, depois é o touro que se agita, o desenho também quase que de um pajem, a expressão juvenil de um pagem no teu rosto, no teu olhar.

Este ano, particularmente, está me sendo muito difícil, porque perdi, logo no início, em janeiro, Vivi(en), minha companheirinha querida por 41 anos e depois, há um mês talvez, nossa gatinha (a Tirica) que nos acompanhou por 13 anos. Duas cirurgias (nos olhos – catarata e miopia elevada de 11 graus) e agora, a da hérnia inguinal, da qual me recupero. Ando buscando formas de reencontrar o sentido de nossas vidas.

Este filme, eu intuía, foi também um modo de reencontrar um alento. Reconheci o nome de Gianni Toyota, que o Xará me apresentou numa exibição de seu filme, e com quem tomamos depois uma bela cerveja. Gostei muito da luz do filme, e vi que, no final, há uma dupla dedicatória ao teu pai e à mãe dele. Muito bonito! Muito grato pelo presente!

Joel Yamaji é cineasta e professor de cinema (29/11/2022)

Olá, Emilie. Acabei de assistir ao seu filme, e estou bastante tocado por ele! É de uma sutileza ímpar o modo como você o conduz, como empresta o seu corpo para que possamos ver, e sentir, através dele. Através dele, pude vislumbrar algumas conexões sensíveis: entre o humano e a natureza, entre o profano e o sagrado. O filme induz a essa condição de contemplação, sugerindo um outro tempo e lugar, reafirmando o princípio fundamental da interdependência, tão necessário, sempre. Em minha leitura, eu a percebi como um prolongamento da paisagem, ou melhor, imiscuída a ela. O filme me levou a um estado sensível, embelezou e serenou o meu dia, tornou-o muito melhor! 🙂 Muitos parabéns pela realização do filme! Estendo também minhas felicitações para a equipe: fotografia e trilha impecáveis! Mais uma vez, obrigado por partilhar o seu lindo trabalho comigo. Quando eu for em São Paulo, quero combinar um café com você. Bjs

Alan Minas é escritor e cineasta (dez/2022)